Não aprendi a  mergulhar do dia para a noite. Foram muitas as tentativas. Engoli água.  Tomei caldo. Agitei os braços, pedi socorro. Nadei que nem cachorrinho.  Fiz aula de natação. Me apoiei em uma bóia. Usei os dedos para segurar o  nariz na tentativa de me salvar, prender a respiração, trancar a  passagem de ar. Busquei auxílio. E um dia assim, sem menos nem mais,  consegui mergulhar, segurar o ar, voltar, respirar. Algumas pessoas  neste momento se sentem no mais completo processo de afogamento. É para  vocês que eu escrevo.
Não  sou a Guru Da Sabedoria. Sou eu, apenas. Gente que nem você. Que sente,  se dá mal, supera, erra, dá a volta por cima. Essa é uma coisa muito  frequente na minha vida: os famosos cinco minutos. Às vezes eles duram  mais, podem virar uma semana, dez dias, duas horas, não sei ao certo.  Mas batizei esse período de Os Cinco Minutos. É o tempo que me permito  ficar triste, chorar, bater com a cabeça na parede, gritar feito louca,  rasgar páginas. A gente precisa disso, precisa do surto para poder  colocar um pé na frente do outro. 
Eu  não sei tudo, não pense que tenho as respostas. Minha vida de vez em  quando parece uma cortina de banheiro. Sabe quando está frio bem frio, a  porta aberta, você está tomando banho e um ventinho empurra a cortina  gelada na sua perna? Um choque entre a água quente do chuveiro e o  gelado da cortina de banheiro. De vez em quando a minha vida é isso. E  nem sei o que isso significa. Só gostaria que você entendesse que eu não sou uma gramática, um dicionário, uma enciclopédia ou uma mãe de santo. 
Existem coisas que só você saberá responder. Por mais que eu diga e fale, você  sabe como agir. É você o dono do sentimento, não eu. A gente pode  sentir parecido, pode se identificar. Mas o sentimento é único, tem  nome, sobrenome e apelido. A gente faz planos demais. Idealiza  situações. Um dia vem um vendaval e leva tudo. No meio disso me  pergunto: e agora? O que a gente faz com tudo aquilo que tinha escrito  no papel mental? Porque planejamos e escrevemos mentalmente a nossa  vida. Se algo sai fora do proposto, se algum ator erra a fala e age no  improviso dá problema. O que a gente faz quando o vento leva o que nos  era fundamental? Fica o gosto de cadê-a-minha-vida. Fica a falta do  cheiro. Fica uma estranheza no ar. Uma dor que pica o coração em  quadradinhos. Um desamor na fronha do travesseiro. Um incômodo: e se  mais ninguém me fizer sentir assim? Porque quando a gente sente acha que  aquilo é único, para sempre. Ninguém vive uma história pensando que  amanhã ela terá fim. A gente precisa dar continuidade. É por isso que só  você tem a resposta - e as suas verdades.
Eu  sei perdoar. Mas não sei se consigo perdoar tudo. O perdão é relativo.  Ele depende de uma série de fatores, inclusive o clima pode influenciar -  no frio o meu pensamento tem que pegar no tranco. O que eu sei é que o  perdão precisa chegar na hora em que a dor for embora. Só quando para de  doer é que você consegue enxergar tudo com transparência. É por isso  que muita gente morre sem perdoar. Essas pessoas, pense bem, nunca  pararam de sofrer. Eu decidi: não sofro mais. Sofrer dá trabalho,  desgasta. Se tiver que perdoar, perdoa. E não pensa mais no assunto.  Porque a nossa imaginação quando quer sabe ser mais malvada que a Nazaré  Tedesco.
A  traição faz com que a gente se pergunte até que ponto foi verdade. O  que foi importante, o que teve relevância. Faz a gente se olhar no  espelho e fazer um resumo: sou nada. Uma ervilha, uma formiga, algo  pequeno. Quando alguém nos trai a primeira coisa que chega invadindo a  cabeça é: o que diabos aconteceu? Onde eu errei? O que me falta? A outra  pessoa fingiu? Eu sou ruim em quê? Por quê? Por que aconteceu isso logo  comigo? 
Perdoando  ou não, eu entendo. A gente precisa desesperadamente da sensação de  realidade. De que não foi sonho. De que o relacionamento foi vivido por  duas pessoas em sintonia e não apenas por uma. A gente sempre quer a  certeza da importância para acreditar que tudo foi verdade. E não um  devaneio sentimental. 
 
 
7 comentários:
"O que a gente faz quando o vento leva o que nos era fundamental? Fica o gosto de cadê-a-minha-vida. Fica a falta do cheiro. Fica uma estranheza no ar. Uma dor que pica o coração em quadradinhos. Um desamor na fronha do travesseiro." fiquei sem palavras, sabe, este foi um texto intenso, dolorido.
Gostei de te ver lá no blog, estava com saudade.
Nossa.. que dor :~
senti um pouquinho daqui
saudade amiga ><
qualquer coisa estou aqui pra dividir a dor..
Que texto ótimo, Bárbara, tão direto ao ponto, tão certeiro!
Me fez pensar...
Um beijo grande, boa semana.
Ótimo texto, tens um dom com as palavras menina! Parabéns.
Tantas ideias com as quais me identifiquei! Gostei desse texto. :) Uma delas eu várias vezes faço-as ver com amigos ou conhecidos: o facto de que só o próprio consegue tomar decisões em função dos seus sentimentos. De facto podemos identificar-nos, mas o único que compreende o que sente é o próprio. :)
Maaaas quantas verdades em poucas palavras!!! Me encantei amiga, tava sentindo sua falta por lá ;/
Tem selinho pra vc no meu Blog (:
Beijoos!!
http://pathyoliver.blogspot.com/2011/08/600-seguidores.html
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